terça-feira, 11 de setembro de 2012

MIDIATIZAÇÃO DA CULTURA

O surgimento e o desenvolvimento dos meios de comunicação podem ser considerados uma característica essencial da cultura ocidental e uma dimensão marcante da sociedade atual. O crescimento urbano desorganizado seguiu junto com a expansão dos meios eletrônicos. O desequilíbrio gerado pela urbanização irracional e especulativa é “compensado” pela eficácia comunicativa das redes tecnológicas. A expansão territorial e a massificação da cidade, que reduziram a interação entre os bairros, ocorreram junto com a reinvenção de laços sociais e culturais que passam através do rádio e da televisão. Atualmente, são estes meios que com sua lógica vertical e anônima, diagramam os novos vínculos invisíveis da sociedade.
Junto com a degradação política e a descrença em suas instituições, outros modos de participação se fortalecem. Homens e mulheres percebem que muitas das perguntas próprias dos cidadãos – a que lugar pertenço e que direitos isso me dá, como posso me informar, quem representa meus interesses – recebem sua resposta mais através do consumo privado de bens e dos meios de comunicação de massa do que nas regras abstratas da democracia ou pela participação coletiva em espaços públicos.
A crise das instituições tradicionais produtoras de sentido (escola, família, religiões, Estado, culturas locais) facilitou a constituição de novas instâncias geradoras e difusoras de sentido. O sistema midiático se tornou nas sociedades modernas talvez o principal fator gerador e difusor de símbolos e sentidos. Ele elabora e difunde, mesmo se de uma forma não totalmente intencional ou planejada, visões de mundo, sentidos e explicações para a vida e a prática das pessoas e, por isso, passa a influenciar sempre mais seu cotidiano, sua linguagem e suas crenças.
A partir dos discursos e das visões de mundo produzidos pelos sistemas de representação simbólica, os sujeitos podem se posicionar e construir sua identificação com determinados papéis, perfis, significados. Baseados nessa identificação subjetiva, na qual sempre estão presentes desejos e dinâmicas do inconsciente, os sujeitos afirmam ou não seu pertencimento: isso somos nós (e não aquilo), fazemos parte dessa cultura/povo/comunidade (e não daquela outra).
Apesar de dois terços da humanidade sequer fazer uso do telefone e continuar social e economicamente excluídos, os processos de mundialização financeira, econômica, cultural e política vigentes só foram possíveis por meio do desenvolvimento das infotelecomunicações e de seus aparatos. São eles que fornecem o substrato material para o processo de globalização cultural.
A informação e o entretenimento das maiorias procedem principalmente de um sistema deslocalizado, internacional, de produção cultural e cada vez menos da relação diferencial com um território e com os bens singulares nele produzidos. Várias décadas de construção de símbolos transnacionais criaram o que Renato Ortiz denomina uma “cultura internacional popular”, com uma memória coletiva feita com fragmentos de diferentes nações. A audiência de cada país vai se acostumando a que o “normal” na mídia sejam as narrativas espetaculares fabricadas a partir de mitos inteligíveis a espectadores de qualquer nacionalidade.
Bibliografia:
Consumidores e Cidadãos – Conflitos Multiculturais da Globalização
CANCLINI, Néstor García
Cultura Midiática e Educação Infantil – MOREIRA, Alberto da Silva

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