O surgimento e o desenvolvimento dos meios de comunicação podem ser  considerados uma característica essencial da cultura ocidental e uma  dimensão marcante da sociedade atual. O crescimento urbano desorganizado  seguiu junto com a expansão dos meios eletrônicos. O desequilíbrio  gerado pela urbanização irracional e especulativa é “compensado” pela  eficácia comunicativa das redes tecnológicas. A expansão territorial e a  massificação da cidade, que reduziram a interação entre os bairros,  ocorreram junto com a reinvenção de laços sociais e culturais que passam  através do rádio e da televisão. Atualmente, são estes meios que com  sua lógica vertical e anônima, diagramam os novos vínculos invisíveis da  sociedade.
Junto com a degradação política e a descrença em suas instituições,  outros modos de participação se fortalecem. Homens e mulheres percebem  que muitas das perguntas próprias dos cidadãos – a que lugar pertenço e  que direitos isso me dá, como posso me informar, quem representa meus  interesses – recebem sua resposta mais através do consumo privado de  bens e dos meios de comunicação de massa do que nas regras abstratas da  democracia ou pela participação coletiva em espaços públicos. 
A crise das instituições tradicionais produtoras de sentido (escola,  família, religiões, Estado, culturas locais) facilitou a constituição de  novas instâncias geradoras e difusoras de sentido. O sistema midiático  se tornou nas sociedades modernas talvez o principal fator gerador e  difusor de símbolos e sentidos. Ele elabora e difunde, mesmo se de uma  forma não totalmente intencional ou planejada, visões de mundo, sentidos  e explicações para a vida e a prática das pessoas e, por isso, passa a  influenciar sempre mais seu cotidiano, sua linguagem e suas crenças. 
A partir dos discursos e das visões de mundo produzidos pelos  sistemas de representação simbólica, os sujeitos podem se posicionar e  construir sua identificação com determinados papéis, perfis,  significados. Baseados nessa identificação subjetiva, na qual sempre  estão presentes desejos e dinâmicas do inconsciente, os sujeitos afirmam  ou não seu pertencimento: isso somos nós (e não aquilo), fazemos parte  dessa cultura/povo/comunidade (e não daquela outra).
Apesar de dois terços da humanidade sequer fazer uso do telefone e  continuar social e economicamente excluídos, os processos de  mundialização financeira, econômica, cultural e política vigentes só  foram possíveis por meio do desenvolvimento das infotelecomunicações e  de seus aparatos. São eles que fornecem o substrato material para o  processo de globalização cultural. 
A informação e o entretenimento das maiorias procedem principalmente  de um sistema deslocalizado, internacional, de produção cultural e cada  vez menos da relação diferencial com um território e com os bens  singulares nele produzidos. Várias décadas de construção de símbolos  transnacionais criaram o que Renato Ortiz denomina uma “cultura  internacional popular”, com uma memória coletiva feita com fragmentos de  diferentes nações. A audiência de cada país vai se acostumando a que o  “normal” na mídia sejam as narrativas espetaculares fabricadas a partir  de mitos inteligíveis a espectadores de qualquer nacionalidade. 
Bibliografia: 
Consumidores e Cidadãos – Conflitos Multiculturais da Globalização
CANCLINI, Néstor García
Cultura Midiática e Educação Infantil – MOREIRA, Alberto da Silva